O atleta sul-africano Oscar Pistorius alcançou no Meeting de Lignano (Itália), no último dia 19 de julho, o índice para o Campeonato Mundial da IAAF na Coreia do Sul e, também, marca mínima para participar dos Jogos Olímpicos de Londres.
Mérito muito grande do atleta e de seu estafe técnico. No entanto, surge a dúvida de que isso é fruto somente de treinamento e potencial genético ou a tecnologia da prótese seria um terceiro componente.
Essa discussão está pautada hoje não só na questão ética que levou ao julgamento do caso na Corte Arbitral do Esporte, já que a IAAF não permite a participação de atletas em seus eventos que utilizem recursos que gerem vantagem na competição.
Podemos usar uma lógica indutiva e entender que sem a prótese o atleta não poderia correr, logo com a prótese o atleta não tem vantagem, mas está em igualdade de condições com os demais atletas.
Um atleta treinado como no caso de Oscar e utilizando um recurso tecnológico torna o seu corpo uma estrutura simbiótica, que produz resultados esportivos fantásticos.
Nesse sentido, não podemos caracteriza-lo somente como um corpo deficiente, por conta da ausência de suas pernas, já que em sua especialidade atlética esse obtém marcas esportivas que poucas pessoas no mundo são capazes de fazer. Sua performance esportiva o torna um corpo eficiente.
No entanto, as pesquisas mais recentes tem mostrado que o uso das próteses gera um retorno de energia elástica de aproximadamente 92% em cada passada.
Não seria mais lógico caracteriza-lo, Pistorius, como Super Corpo, algo muito discutido em tempos de pós-modernidade e de tanta tecnologia.
Será que o espaço de competição dos atletas com “Super corpos” é nos Jogos Olímpicos? Isso não se caracterizaria como doping tecnológico? Poderia um atleta como Bolt amputar sua perna e colocar uma prótese que lhe daria melhor retorno mecânico e melhorar sua performace nos 100 metros?
Eticamente pessoas com estruturas mecânicas ou biônicas que gerem melhora da performance em uma especialidade, mesmo que essa seja para minimizar sua condição de incapacidade frente uma deficiência, não poderiam competir em eventos nos quais as regras não permitem a utilização desses equipamentos por todos os participantes.
Entender esse ponto de vista nos leva a um segundo ponto de discussão.
Os super corpos competem hoje em um lugar criado para os corpos deficientes, que não tinham lugar na sociedade esportiva do século XX. Será que os Jogos Paraolímpicos estão preparados para essa nova lógica?
Os Jogos Paraolímpicos sem dúvida são um espaço para esses atletas, suas potencialidades e limitações.
No entanto, o século XXI começa com um desafio para o movimento Paraolímpicos que é adequar sua filosofia, regras e classificação a essa nova possibilidade. Já que implementar essa condição no qual abre espaço ou regulamenta a utilização de recursos para os Super Corpos das pessoas com deficiência poderá trazer uma maior mídia e mostrar a possibilidade do ser humano.
No entanto, caso não seja compreendida essa nova condição isto poderá agravar a disparidade entre países ricos e pobres ou manter um sistema de classificação com o foco só na deficiência e não na possibilidade ou regras permissivas ao uso de componentes que não potencializem a equidade de condições na participação esportiva.
Ciro Winckler
A entrevista do Prof. Dr. Silvio Meira nos ajuda a entender um pouco essa discussão.
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